Superman é um dos super-heróis mais complexos de adaptar, não porque ele é poderoso demais e por isso precisaria de desafios à altura. Mas porque em sua essência ele é majoritariamente bom, ao ponto de ser ingênuo. Uma humanidade que parece destoar do mundo cínico em que a gente vive. Mas que talvez seja exatamente o que a gente precisa, assim como ele foi, quando criado na década de 1930. Época da grande depressão, onde ele representava ideais positivos e esperançosos. Será que em 2025, o kryptoniano volta a ter sua simbologia de origem?
A grande "inauguração" na nova fase da DC, a versão de James Gunn do homem de aço, é ciente do histórico do personagem na cultura pop. E por isso se permite não perder tempo com histórias de origem e longas apresentações. Se essa escolha aliena gerações mais jovens, é detalhe a se descobrir conforme o filme chegar ao grande público. Por outro lado, para qualquer um que já tenha tido contato com o Super-Homem, não perder tempo com introduções, e nos levar direto à uma boa aventura é uma escolha bem acertada.
Assim encontramos um Superman (David Corenswet) já em atividade há alguns anos, como super e reporter, e com um relacionamento estabelecido com Lois (Rachel Brosnahan), que agora enfrenta seu primeiro revés. Sua interferência para evitar uma guerra entre dois países causa uma crise diplomática. Suas ações e objetivos começam a ser questionados, e claro, com uma grande ajudinha de Lex Lutor (Nicholas Hoult) para tal.
E já que este universo de James Gunn parece já estar em atividade há temos, nós é que chegamos agora, há muito mais acontecendo em segundo plano. Para começar, o Superman não é o único ser com poderes no planeta. Tão pouco o único super-herói. Meta-humanos estão espalhados por aí, e até um Lanterna Verde, o Guy Gardner (Nathan Fillion), integra uma equipe de heróis que ainda conta com o Sr. Incrível (Edi Gathegi) e a Mulher Gavião (Isabela Merced). E talvez esse universo extremamente rico, seja o único grande problema da produção, que está mais relacionado a obrigatoriedade de criar um universo compartilhado, do que de fato com este filme em particular.São muitos personagens, muitos conceitos que precisam ser explicados e apresentados, além da trama principal, que por si só já é complexa, com articulações políticas, e críticas aos tempos atuais. Excesso que fica evidente especialmente no clímax, onde a atenção fica dividida entre as ações do protagonista, do vilão, o núcleo do jornal, e os demais heróis. A distribuição é até equilibrada, mas pode confundir e afastar quem não está completamente envolvido com o universo dos quadrinhos. Convenhamos, quantas pessoas conhecem o herói super-inteligente com uma máscara de "T" na cara?
Mas admito, esse é o único porém que encontrei no filme. E que não impediu em nada meu envolvimento com a produção. Pois os predicados, compensam a falha. Com uma trama política assustadoramente realista, parece que Gunn, estava prevendo, ou apenas observando muito atentamente, a história atual do mundo, quando escreveu o roteiro. Construindo uma analogia perfeita aos conflitos entre Israel e Palestina, e o envolvimento dos Estados Unidos. E também relembrando aos estadunidenses que elegeram um presidente que odeia imigrantes, que seu herói maior é um deles.
Já a composição de personagens é outro acerto à parte. Desde papeis aparentemente acessórios, como a Srta. Teschmarcher (Sara Sampaio) - presta atenção nela - , até aqueles essenciais para a trama, trazem bons atores, que compreenderam o que Gunn queria destas novas versões dos personagens. O versátil Nicholas Hoult, cria um Lex Luthor que conversa muito com os bilionários mimados e erroneamente admirados de hoje em dia. Pessoas pequenas, de ego frágil, inveja grande e que nunca aprenderam a lidar com frustrações.
Rachel Brosnahan cria uma Lois inteligente, ágil e ciente do cinismo da sociedade. O que cria um equilíbrio perfeito com o protagonista, e consequentemente uma boa química. David Corenswet consegue transmitir a ingenuidade e a determinação em fazer o bem sem soar piegas, especialmente quando precisa ser um ser imponente, com uma cueca por cima da calça. Como Clark Kent, é mais leve, brincalhão, mais humano. E é quando une essa humanidade por ter sido criado no Kansas, com o poder ilimitado de sua origem em Krypton, que o personagem se torna complexo, e ainda capaz de solucionar o grande impasse do filme.Uma encarnação bondosa, e "do povo", que resgata gatinhos de árvores, e faz o bem, sem pensar que podem haver consequências maiores. James Gunn descobriu que o grande desafio do Superman para o público atual, não é dar a ele a visão realista e quase triste das versões mais recentes. Mas, manter sua determinação em fazer o bem, em um mundo globalizado, cheio de forças que o manipulam pra vontade própria, e cujo julgamento vem à galope em grandes ondas.
E o visual acompanha esse Superman mais solar, com um mundo mais vivo e colorido. Sem medo de soar caricato, quando mostra fantasias de heróis, monstros gigantes e tecnologias malucas. As lutas são criativas, bem coreografadas e bem pensadas, especialmente em relação ao uso dos diferentes poderes dos super-personagens. Os efeitos especiais são eficientes, especialmente quando se trata de Kripto, o super-cão inteiramente criado em CGI. E que vai virar o favorito da molecada facilmente. Uma pena apenas que a sessão de imprensa no Rio de Janeiro, não foi em IMAX. Recomendo para quem tiver acesso à tecnologia. Mas não se preocupe se não tiver, o filme continua divertido em qualquer tela.
Extremamente político e ciente dos tempos atuais. Superman consegue executar a difícil tarefa de encontrar um novo papel para o maior herói de todos na sociedade de hoje. E surpreendentemente, assim como quando fora criado, é trazer esperança para um mundo extremamente cínico. De forma diferente, é verdade, mas com a mesma essência. Além de ser inteligente, ágil e extremamente divertido. Sim, temos um novo Superman, e ele é exatamente quem precisávamos!Ação, Aventura, Ficção Cientifica
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