A diferença entre vontade, capacidade e possibilidade de encarar a complexa tarefa de criar outro ser humano. É isso esta ficção cientifica pretende avaliar, ao colocar um casal à prova, diante da mão autoritária do estado. Na maior parte do tempo através de situações confusas e desconfortáveis.
Mia e Aaryan (Elizabeth Olsen e Himesh Patel) são um casal bem sucedido em uma sociedade utópica em um mundo distopico. Dentro das fronteiras deste estado autoritário, as pessoas conseguem viver com conforto em um mundo onde recursos são escassos. Boas casas, alimentação, tempo de trabalho e lazer, saúde e até longevidade fora do comum, alcançada por drogas, tudo cedido e controlado pelo governo. O que inclui a fertilidade, controlada por causa da limitação de recursos.
Para ter a possibilidade de ter um filho, os casais precisam se submeter a uma rigorosa avaliação, cujo estágio final inclui um julgamento presencial. Então Mia e Aaryan recebem em casa a avaliadora Virgínia (Alicia Vikander), que deve acompanhar sua rotina por sete dias. Mas os testes usados para avaliar o casão, vão além do esperado. Desafiando sua habilidade, paciência, empatia, relação conjugal, e até a sanidade.
É nesse contexto que A Avaliação, filme dirigido por Fleur Fortune explora aspectos da maternidade, em relação ao indivíduo, e ao estado de forma criativa e desconfortável. O casal deseja um filho, acreditam ser capazes individualmente e como família. Mas a avaliação os fazem questionar suas certezas, e confrontar suas incapacidades e despreparo. Enquanto nós, do lado de cá da tela, aprendemos que sim, é possível se preparar. Entretanto, a vida sempre trará novos desafios.
Ao mesmo tempo, compreendemos que algumas das dificuldades são criadas pela sociedade, e por vezes pelo poder vigente. Aqui representada pela interferência nada imparcial do estado. Além de exagerados, antiéticos e até cruéis, as avaliações são sim influenciadas por ele. Que determina quem pode ou não ter "a vida ideal" jogando seus cidadãos uns contra os outros.
A partir daí, não é preciso ir muito longe para compreender no subtexto, discussões como, divisão de responsabilidade parental, exigências diferentes de acordo com o gênero, o que traz sacrifícios maiores, geralmente para as mães. E, principalmente, o aborto, mas para além do mero tema exterminar ou não à vida. Aprofundando a abordagem para que tipo de mundo essas crianças podem ou não encontrar de acordo com as condições em que foram geradas.
Tudo isso, em um drama psicológico, intensificado pelos absolutismos da ficção-cientifica. Ao ponto que adoraríamos ver mais deste mundo, compreender como funciona. Embora este não seja o foco da produção, que propõe uma discussão mais intimista. Para tal, a produção situa a produção ambientes amplos, isolados e hostis.
A residência e onde o casal vive e trabalha, fica isolada em um deserto rochedo, à beira mar, acoitado pelas ondas e vento. Enquanto a própria casa em si, tem um design austero, sem nenhuma indicação de aconchego. As casas são funcionais e apenas isso, até as camas parecem desconfortáveis. A proposital exceção é o espaço de trabalho do pai, onde um confortável sofá, abriga suas criações. Ele cria animais de estimação digitais. Companhia e aconchego ilusório, em um mundo frio que se vende como a melhor opção. Sim, há metáforas e reflexões em cada detalhe de A Avaliação.
Elizabeth Olsen e Himesh Patel convencem como casal ávido e iludido pelo sistema, que lentamente confrontam a dura realidade. Mas o destaque é de Alicia Vikander, já que sua personagem exige que a atriz emule o comportamento infantil ao mesmo tempo que traz segundas intenções escondidas. Tarefa que ela faz de forma eficiente, ao ponto confundir e até criar um elo com candidatos à pais, mas mantendo o espectador sempre desconfiado, desconfortável e até surpreso com sua capacidade de convencimento.
A Avaliação chegou sem muito alarde, diretamente no Prime Video, correndo o risco de passar despercebido. Uma pena, pois a produção é caprichada, rica e propõe uma reflexão que nos faz reavaliar anseios, habilidades e liberdades que a sociedade proporciona diante da possibilidade de formar uma família. Vale muito a sessão, e a discussão pós filme!A Avaliação (The Assessment)
2025 - EUA - 114min
Ficção científica, Drama
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