Vice

Dick Cheney não é uma pessoa naturalmente carismática. Manipulador, conservador, oportunista e pragmático, até mesmo seu tom de voz e ritmo de fala são monótonos. Vice parece ter plena consciência de seu protagonista pouco empático, e da trama intrincada que o cerca, pois faz uso de todo recurso possível e imaginável para aproximar o público de sua história. Vice também parece ser uma afirmação do estilo próprio de Adam McKay na direção.

Acompanhamos a vida política de Dick Cheney (Christian Bale), desde a juventude quando se afiliou ao partido Republicano, até sua atuação mais recente, como vice-presidente dos Estados Unidos em plena crise pós 11 de setembro. Com amplos poderes no governo concedidos por George W. Bush (Sam Rockwell), a enfase aqui é quanto ao legado catastrófico que o vice mais influente da história estadunidense deixou para seu país e para o mundo.

Narrador personagem, pausas explicativas, texto na tela, expositividade verborrágica, quebra da quarta parede, saltos gigantescos no tempo, narrativa não linear, cenas pós créditos, referências visuais, não faltam firulas para tornar a complexa política americana mais palatável e interessante para o público geral. Algumas destas idéias e técnicas funcionam, muitas não. Já a reunião de todas cria uma colcha de retalhos desconexa que prende o expectador mais pela curiosidade quanto ao formato, do que pela trama em si.

O roteiro traz um excesso de explicações e interrupções de diferentes formatos na narrativa, que ora beira o insulto à inteligência do espectador, ora pode deixar os menos atentos perdido. A sensação é que a produção não decide entre ser altamente explicativa, ou inteligente e irônica.

Ao menos a produção tem certeza de que seu protagonista não é uma figura heróica, inspiradora, ou benevolente. De fato, Cheney é tratado como um dos piores tipos de políticos que se pode encontrar, cercado de outro políticos e pessoas igualmente inapropriadas para cargos de poder. Não por não serem capazes, mas por suas intenções que passam longe de escolher o melhor para o país. É através de um olhar crítico, e quando funciona ácido, que a produção segue.

E no design de produção, maquiagem e atuação que o filme mostra seus pontos fortes. Os dois primeiros acertam em cheio na reconstrução da época, na criação da atmosfera e principalmente na caracterização dos atores, levando-os o mais próximo o possível das figuras públicas retratadas. A outra metade do trabalho, representação destes rostos conhecido dica, é claro, por conta da atuação.

Bale entrega sua usual entrega na criação de Cheney. Trejeitos, maneirismos, postura tom de voz que segue, inclusive, o envelhecimento do personagem, e claro a transformação física pela qual o ator já é sempre lembrado. A composição impressiona pela fidelidade, mas não é a mais surpreendente da galeria de trabalhos do ex-batman.

Amy Adams se esforça o máximo que pode como a esposa determinada e influente na vida do protagonista. Mas, nem sempre o roteiro lhe dá o melhor material para trabalhar. Sam Rockwell faz uma recriação extremamente idiota e divertida de ver de Gerogr W. Bush, e apenas isso. Já Steve Carell dá vida à Donald Rumsfeld, que não tem tempo de tela suficiente para dizer a que veio. O elenco ainda conta com Jesse Plemons, Eddie Marsan e Tyler Perry, novamente com pouco destaque.


Vice tem sim uma história que deve ser conhecida, mas esta é protagonizada por uma figura difícil de digerir, em um contexto complexo. Por isso o roteiro busca uma infinidade de recursos para tornar a história mais palatável, e acaba exagerando no caminho. O resultado é um filme com ritmo cansativo, e boas idéias perdidas, em uma montagem que falha em ser dinâmica. Mas ainda é possível admirar as excelentes caracterizações, e o bom trabalho de seu esforçado e talentoso elenco. 

Vice
2018 - EUA - 132min
Biografia, Drama

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