Capitão América: Guerra Civil

Um filme evento previsto antes mesmo de seu anúncio oficial. A Guerra Civil entre os heróis da Márvel passou a ser uma possibilidade assim que Nick Fury afirmou ainda no primeiro longa da super-equipe: "O mundo está se enchendo de gente que não pode ser superada ou controlada". Entretanto, enquanto o plano do antigo diretor da S.H.I.E.L.D. era unir essas pessoas, o das organizações de segurança mundiais, promovem o extremo oposto.

Um erro de um membro da equipe em uma missão que abre o filme, é a gota d'água para as "pessoas normais" do mundo, que responsabilizam os Vingadores pela bagunça de suas missões de salvamento. Os efeitos colaterais das missões de Nova York, Washington e a fictícia Sokóvia, dão origem ao Tratado de Sokóvia, que prevê a regulamentação dos poderes e atividades das pessoas com habilidades especiais.

Tomado pela culpa Tony Stark (Robert Downey Jr.) acredita que a cooperação com o governo é um mal necessário para evitar mais perdas. Enquanto Steve Rogers (Chris Evans) acredita em manter sua autonomia. Após ver a queda da S.H.I.E.L.D. é natural que o Capitão fique receoso ao dar à terceiros, passíveis de corrupção, poder sobre tantas habilidades especiais. Ambos os argumentos são válidos, e este é o ponto: não há lado errado!

Livre do maniqueísmo, certo/errado, bem/mal, quase onipresente em filmes de super-heróis, é complicado para o expectador decidir qual lado escolher. Ao mesmo tempo, o longa deixa muito claro, as motivações de cada personagem ao escolher um lado. E estas tem a ver tanto com sua trajetória até ali, quanto com sua personalidades, bem construídas e apresentadas para o expectador ao longo de vários filmes. Esta complexidade narrativa, torna Capitão América: Guerra Civil o filme mais maduro do universo cinematográfico da Marvel até então.

Mas não se preocupe, maturidade não é sinônimo de "sombrio e realista", este ainda é um filme da Marvel, e ainda segue seus padrões estabelecidos nas produções anteriores. A diferença é que aqui o equilíbrio entre ação, humor e drama é mais acertado. Assim como as consequências de seus atos tem maiores implicações, sem que no entanto perder o tom aventuresco que um longa onde personagens usam uniformes coloridos precisa.

Para os não conhecedores de quadrinhos esta trama é um dos arcos mais importantes da história recente da Casa das Ideias. A série de Mark Millar e Steve McNiven, usa e abusa do vasto universo de personagens da editora, e tem o foco na disputa entre os dois lados (leia mais sobre o original aqui).

Mas esta é uma adaptação, refém não apenas da diferença entre mídias, quadrinhos/cinema, mas também das condições de produção. Muitos dos personagens presentes no original tem seus diretos presos em outros estúdios. Outros pouco conhecidos do público, estão longe de ganhar espaço em tela, e não haveria tempo de apresentar tanta gente. Assim os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, apenas se inspiram no original, e ajustam a disputa aos personagens e condições que tem disponíveis.

Além disso, este é oficialmente um filme do Capitão América e não dos Vingadores. Sequência direta de O soldado Invernal, traz a jornada de Bucky Barnes (Sebastian Stan) como agravante à já estabelecida disputa. Como problema pouco é bobagem, é claro, ainda há um vilão na misteriosa figura de Zemo (Daniel Brühl). Que aqui não é barão, mas também tem justificativas "compreensíveis" para seus atos. Então um aviso, agora aos fãs dos quadrinhos. Apesar do título, esta não é uma adaptação fiel da Guerra Civil, mas a ideia central ainda está lá.

O filme ainda tem tempo de apresentar apropriadamente o pouco conhecido do grande público Pantera Negra (Chadwick Boseman, eficiente), de longe o personagem mais "adulto", e com arco mais dramático da produção. E fazer o extremo oposto, ao recolocar o "amigão da vizinhança" Homem-Aranha (Tom Holland, carismático), emprestado da Sony,  neste universo. Sem perder tempo explicando novamente sua origem, e na versão mais jovem e divertida das telas até então.


Apesar das várias tarefas, a trama bem amarrada, possibilita que cada personagem tenha seu arco bem estabelecido. O que o elenco afinado faz muito bem. Enquanto vemos o Capitão, em uma busca desenfreada por salvar seu último amigo dos velhos tempos. Robert Downey Jr., pode finalmente sair do automático (que é ótimo já que ele é o Tony Stark da vida real), e lembrar as pessoas de que é um ótimo ator dramático, quando o Homem de Ferro, precisa lidar com a culpa de seus atos, seu passado, e se indispor com as pessoas que mais confia. Não se preocupe, ele ainda faz muitas piadinhas, o que somado às participações do Homem-Aranha e do Homem-Formiga (Paul Rudd, roubando as cenas em que aparece), garante o bom humor.

Tudo isso com muitas, e boas cenas de ação. A eficiência dos irmãos Joe e Anthony Russo, em coreografar de forma coerente tantos acontecimentos, personagens e superpoderes que agradou em Capitão América - O Soldado Invernal, está de volta neste longa. O único escorregão fica evidencia gritante, em alguns momentos, da computação gráfica, especialmente em contraste com efeitos práticos.

Também haverá quem se incomode com algumas questões, levantadas depois que a empolgação do filme passa. Como, onde estão Maria Hill Nick Fury, nessa bagunça? Apesar de "oficialmente" morto o personagem de Samuel L. Jackson, não teve problemas em resgatar superequipe que ele criou em A Era de Ultron. Ele e a agente Hill, tiveram sua última trabalhando na nova base dos Vingadores. Estariam de férias? Ou simplesmente não encontraram espaço para eles no roteiro? Nem vou começar a ponderar a moderação do Visão, que convenhamos, encerraria de forma rápida e nada divertida o grande embate entre as duas equipes.

Talvez estas respostas estejam na próxima produção do universo Marvel, talvez não. A maioria das pessoas não deve se preocupar com isso, em meio à diversão em grande escala que o filme proporciona. Capitão América: Guerra Civil é a versão mais aprimorada e eficiente da fórmula Marvel já lançada, e o ponto de virada para a próxima fase.

A não ser por uma ou outra cena (geralmente com o Homem-Formiga), o 3D não é uma necessidade. E há duas cenas pós créditos.

Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War)
EUA - 2016 - 148min
Ação/Aventura


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