Star Wars está em crise! Entre agradar antigos fãs e angariar novos, a franquia tem testado terreno, e na maioria das vezes não tem se saído muito bem. Não necessariamente pela qualidade, mas por não alcançar o público correto para qual cada obra foi criada. Skeleton Crew é o mais recente exemplo disso.
Wim (Ravi Cabot-Conyers), Neel (Robert Timothy Smith), Fern (Ryan Kiera Armstrong) e KB (Kyriana Kratter), são crianças comuns vivendo sua vidinha, estranhamente parecida com a infância na Terra, em seu planeta natal At-Attin, um planeta escondido por uma barreira de segurança. Espertas e em busca de aventuras como qualquer criança de obras fictícias juvenis, acabam encontrando e decolando por acidente em uma nave espacial. Perdidos no espaço, o grupo passa por várias aventuras, e se tornam uma verdadeira equipe na tentativa de encontrar o caminho de casa.
Na jornada conhecem planetas diferentes, esbarram em aliados e inimigos, além de enfrentarem piratas. Nenhum desses encontros, no entanto é tão marcante quanto a parceira conturbada com Jod Na Nawood (Jude Law), um usuário da força de caráter e intenções duvidosas e muitos nomes. Descobrir se o personagem divertidamente vivido por Law é mocinho, bandido, ou algo entre eles, é uma das melhore partes da aventura.
É praticamente impossível não comparar Skeleton Crew com Os Goonies. Um grupo de crianças, um tesouro a ser encontrado, um navio pirata (espacial), e adultos inescrupulosos em seu encalço. Mas também bebe de outras obras oitentistas como E.T., e do subgênero pirataria. Tudo isso, repensado com elementos da franquia. Naves e espaço portos, ao invés de navios e portos convencionais. Planetas diversos ao invés de ilhas. Blasters e sabres, ao invés de pistolas e espadas. É tudo pirataria, disfarçado de ficção-cientifica.
Os antigos fãs, especialmente os que passaram a infância nos anos de 1980 vão reconhecer a fórmula. Aventura onde crianças são mais espertas e conscientes que os adultos, mantendo a ingenuidade da infância. O que é divertido e nostálgico, mas talvez não seja o que os mais velhos procuram de Star Wars. Esses fãs em particular, são exigentes e cheios de expectativas, por vezes irreais, e frequentemente irredutíveis.
Por outro lado a infância da molecada atual, não se assemelha mais com essa retratada em cena. Fato que fica evidente, quando o próprio Ravi Cabot-Conyers, interprete de Win, precisa fingir brincar com bonequinhos, tal qual Eliot em E.T., mas parece não estar familiarizado com a dinâmica desse tipo de brincadeira. O ator mirim está em uma obra oitentista, mas é da geração alfa.
Assim por mais interessante e criativo que seja, Skeleton Crew pode não conseguir alcançar um público. Seja pela ambientação que não atrai os mais novos. Seja pelas exigências - e ouso dizer um pouco de rabugice - dos mais velhos. Mas aqueles que tiverem disposição e mente aberta não devem se arrepender de abraçar a aventura.
Despretensioso, e sem intenção de se conectar diretamente com nada da franquia, a trama segue por conta própria, com novos personagens, cenários e a liberdade que essa individualidade oferece. E pensada para os pequenos, traz conflitos mais leves, boas mensagens e desenvolvimentos edificantes. Inicialmente indicando Win, como protagonista, logo a escolha se revela apenas um artificio introdutório. A protagonista é a "Tripulação Esqueleto", o roteio dá espaço, e desenvolve cada uma das crianças e principalmente a relação entre elas. Não eram todas amigas à principio, mas terminam como uma unidade coesa.
Entre a molecada, a mais interessante é KB. Altamente inspirada no Data de Os Goonies, e com óculos como os de Geordi La Forge de Star Trek. A menina é um gênio da tecnologia, com conhecimento e habilidades para manipula-la. Mas também refém dela, já que sua condição de saúde depende de máquinas que, eventualmente precisam de manutenção. Uma personagem de potencial ilimitado, mas com limitações impostas.
Os demais seguem estereótipos bem conhecidos. A orgulhosa e mandona Fern é a lider nata. Wim é o sonhador, sem muito entendimento do mundo. Enquanto Neel, é o amigo doce e medroso, com quem todos podem contar. Além de ter uma aparencia pensada para vender colecionáveis, ele é um fofo elefantinho azul. Todos vividos por crianças carismáticas e bem dirigidas.
Entre os adultos, o destaque é sem dúvidas Jude Law que parece se divertir com a dualidade, malandragem e habilidades do personagem. Afinal quem não gostaria de ser um pirata cheio de lábia capaz de usar a força. Seu passado é coerente para justificar sua personalidade dúbia, além de reforçar eventos, e condições comuns ao universo. Em resumo, ele é uma vitima das consequências da Ascenção do Império. Vale mencionar a trama se passa na época da Nova República, mesmo período de The Mandalorian, e Ashoka.
O restante do elenco conta com piratas variados, criaturas digitais, efeitos práticos e maquiagem que recheiam o universo. Tornando os pais das crianças, as pressoas mais desinteressantes do universo. Mesmo tendo uma família de elefantes alienígenas, e uma família com duas mães (não contem aos nerds conservadores!). Ao menos o contexto em que estão inseridos, é digno de nota!
A seguir um comentário com SPOILERS! Siga por sua conta e risco.
Skeleton Crew não tem a intenção, e nem a obrigatoriedade de se conectar com mais nada em Star Wars. Um respiro e liberdade muito bem vindos. Mas mesmo assim, há elemento sim que podem interferir no quadro geral.
At-Attin é de longe o elemento mais curioso introduzido aqui. Um planeta casada moeda da velha república, que por causa de sua camuflagem e incomunicabilidade, passou ileso pelos anos de império. Ileso e produtivo, o que o torna uma verdadeira ilha do tesouro, que pode interferir na dinâmica da Nova República.
Como esse novo governo vai lidar com todo este dinheiro, que se colocado em circulação, propositalmente ou por acidente, pode causar um estrago na economia da galáxia. Além de despertar o interesse de saudosistas da antiga ditadura, que sabemos existir, e que provavelmente darão início à Nova Ordem.
Ainda sobre o planeta. O fato de ele ter ser parte de uma "Grande Obra", que não conhecemos, e de ser habitado por humanos comandado por robôs (referência a Hall9000 de Uma Odisséia no Espaço aqui), também abre espaço para novas discussões.
FIM DO SPOILER!
Skeleton Crew é um excelente respiro que Star Wars precisava. Leve, divertido, livre de amarras, fácil para jovens espectadores, e nostálgico para os mais velhos. Mas, vendido de forma equivocada, pode não alcançar quem deveria. Além de ter que lidar com expectativas e exigências exageradas e irreais dos fãs mais antigos, que exige propósito, referencias e conexões para tudo nesse universo.
Felizmente não estou entre esses fãs, e por isso, pude me divertir na jornada. Convido a você a fazer o mesmo, e convidar a molecada. Se forem de mente aberta, vão encontrar algumas horas de diversão descompromissada. Eu garanto!
Skeleton Crew tem oito episódios, todos já disponíveis no Disney+!
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