Fantasma e CIA

Crianças encontram uma criatura fantástica com quem fazem amizade e a quem precisam proteger de adultos mal intencionados em posição de autoridade, como agentes do governo e cientistas, enquanto procuram uma forma de mandar o novo amigo para casa. Não é de E.T., o Extraterrestre que estou falando. Tão pouco da dezenas de filmes que copiaram sua premissa ao longo das décadas de 1980 e 90. Mas o diretor Christopher Landon pretende atualizar o argumento nessa produção da Netflix

Em Fantasma e CIA, Kevin (Jahi Di'Allo Winston) é um adolescente revoltado com a condição financeira precária de sua família, que o obriga a frequentes mudanças. Até que na casa mais recente para qual se mudam ele descobre e faz amizade com Ernest (David Harbour) fantasma que vem assombrando a residência por décadas. Entre o assédio de um grupo de pesquisa do governo, e a tentativa de seu pai de lucrar com a situação, o jovem tenta descobrir o que aconteceu com o novo amigo, e ajuda-lo a fazer a passagem.

Baseado no conto  “Ernest” de Geoff Manaugh, a originalidade da premissa fica por conta da natureza do amigo fantástico e da atualização para a era da rede social. Ernest é um fantasma, criatura que raramente faz amizade com os vivos, e seu retorno para casa é na verdade a ida para o além. Nada de naves, ou longas jornadas, o caminho para levá-lo de volta é através da investigação e da resolução de seus assuntos inacabados. 

Já o fato de se passar em 2023, dá uma nova forma para a família explorar a situação. Frank (Anthony Mackie), pai de Kevin, quer aproveitar para viralizar nas redes sociais e tirar a família dos maus lençóis financeiros que ele os colocou. O que vai de encontro ao usual nesse tipo de história, que é tentar esconder a criatura mágica. E ainda amplia o conflito de família que serve de pano de fundo para a comédia. 

É nesse conflito que o filme falha. Sempre que o roteiro precisa parar para desenvolver o relacionamento entre pai e filho, a história volta para o clichê cansativo. Sabemos que o evento vai reunir a família. Temos noção até de como e quando essas viradas vão acontecer, o que torna ao desvio muito menos interessante diante de toda a situação de Ernest. 

São os momentos com o fantasma interagindo com o mundo dos vivos, e a investigação em torno de sua vida e morte que de fato divertem. Sem falar praticamente nada, David Harbour entrega um fantasma bonachão fácil de se apegar. Enquanto Anthony Mackie, Tig Notaro e Jennifer Coolidge se destacam entregando divertidas arquétipos bastante conhecidos. 

O problema fica por conta do jovem protagonista, Jahi Di'Allo Winston não tem carisma ou experiência necessários para carregar o filme, tão pouco para fazer frente aos veteranos com quem divide tela. Entregando expressões frágeis, e nunca conquistando a cumplicidade do público. Se o acompanhamos, é porque Ernest está com ele. 

Com um conflito familiar cansativo roubando tempo, e um personagem principal desinteressante, não é difícil entender porque Christopher Landon, diretor dos divertidos A Morte Te Dá Parabéns e Freaky: No Corpo de um Assassino, não consegue extrair o melhor humor das boas situações que a premissa oferece. As possibilidades de humor são muitas, mas a forma com este é executado não arranca mais que um mero sorrisinho.  

Fantasma e CIA diverte, mas não explora todo o potencial de sua conhecida, porém atualizada, premissa. Vale a sessão descontraída com a molecada, mas não ficará marcado na memória de ninguém.

Fantasma e CIA (We Have a Ghost)
2023 - EUA - 126min
Comédia, Aventura
 

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