Estação Central do Cairo - Projeto 1001

Alguns filmes entram para a lista de grandes clássicos mais pela sua importância histórica do que por seu apelo de fato. Estação Central de Cairo é um bom exemplo disso.

O filme egípcio de 1958 acompanha a obsessão de um vendedor de jornais sem teto, por uma vendedora de refrigerantes, que está apaixonada por outra pessoa. Um amor platônico e possessivo, que levará o homem à loucura e a beira da tragédia. Ambos vivem e trabalham no entorno da estação ferroviária do Cairo.

Além a história deles, o filme também mostra vislumbres do cotidiano, e pequenas histórias que acontecem na estação. Nesse aspecto lembrou bastante a Invenção de Hugo Cabret, com pequenas histórias paralelas que ocorrem "nos fundos" da trama principal.

Qinawi (Youssef Chahine, que também é o diretor) é um jornaleiro, sem teto, com deficiência. Hanuma (Hind Rustum) é uma mulher fogosa e bem resolvida sexualmente. E todos em seu entorno são trabalhadores, muitas vezes à beira da miséria. Em 1958, essas não eram coisas que o Egito estava acostumado a ver na tela grande. É exatamente por isso que Estação do Cairo se destaca. O filme joga luz e dá voz a classe trabalhadora, aos sem teto, os miseráveis, aos excluídos e marginalizados pela sociedade. Mostrando que essas pessoas também tem medos, anseios, desejos e sonhos.

Talvez por isso, o filme não tenha sido bem recebido em seu país de origem. Foi banido por duas décadas, devido à demanda popular. Mas o filme também fez o cinema egípcio ser notado no resto do mundo.

Apesar de todos esses méritos, para o público atual o longa não é dos mais interessantes. A atuação é caricata, roteiro e edição tem um ritmo bem confuso, enquanto alterna entre a história principal, a obsessão do jornaleiro, e outras pequenas histórias, como a luta por melhores condições de trabalho. A sensação que fica é que ele não foca direito em nenhum dos temas. E claro, sempre tem a barreira do idioma. Não é apenas uma língua diferente, mas todo um ritmo de fala estranho aos nossos ouvidos brasileiros. O filme é fácil de encontrar no YouTube, mas a maioria das cópias que achei tinham legendas apenas em inglês. 

Retratando a realidade de um povo que geralmente não tem voz, Estação Central do Cairo, é um filme importante para a cultura e história egípcias. E uma curiosidade para quem amar cinema e estiver disposto. Agradável de assistir não é muito não. Mas por outros motivos, merece sim, seu lugar nessa lista!

Estação Central do Cairo (Bab el hadid)
Youssef Chahine
1958 - Egito - 1h17min
Drama

 O Projeto 1001, é um desafio cinéfilo que está rolando aqui no blog e em meu TikTok. Nele eu tento assistir as produções listadas no livro 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer de Steven Jay Schneider. Sempre deixando minhas impressões, apontando detalhes e curiosidades.



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