Demorei para ver essa nova versão de A Múmia, mas uma coisa já chamava minha atenção antes mesmo de eu chegar aos cinema: nunca ouvi falarem tanto da versão de 1999 com Brendan Fraser, quanto na semana de estreia do filme estrelado por Tom Cruise. Não é um bom sinal para esta releitura.
Nick (Cruise) é um saqueador/contrabandista de antiguidades. Em busca de uma descoberta no oriente médio, entra em confronto com terroristas e acidentalmente descobre a tumba de Ahmanet (Sofia Boutella, Kingsman, Star Trek: Sem Fronteiras). Uma construção egípcia no Iraque! Aqui entra a figura de Jenny (Anabelle Wallis, de Annabelle), a arqueóloga cujo principal trabalho é explicar tudo para Nick e consequentemente para o expectador. Eles levam a descoberta para a Inglaterra onde a "maldição da múmia" finalmente e concretizada. Acredite ou não, a falta de "Egito" neste longa (a região só aparece em Flashbacks), não é o problema de A Múmia.
Responsável dar início ao Dark Universe, franquia que vai reunir os monstros clássicos da Universal em um mesmo universo. A produção tem grandes falhas de roteiro, além de não se decidir entre o terror e a ação. O personagem título é um clássico do horror, mas sua grande estrela e real protagonista é um ícone dos filmes de ação. Na disputa pela atenção é Tom Cruise que ganha, enquanto os demais personagens são negligenciados pela narrativa.
O "misterioso" personagem de Russel Crowe, deveria ser o elo entre os monstros, mas é mal apresentado e não mostra a que veio. Parece incluso na trama apenas para cumprir o protocolo. Outros coadjuvantes são tratados com tanta desimportância pelo roteiro, que mesmo os próprios personagens principais não se importam com o seu destino. Como é o caso do amigo e parceiro de Nick, Chris (Jake Johnson), infelizmente o único ator que realmente parece inserido no contexto do filme.
Entretanto, o ponto mais fraco do elenco é Jenny, mal escalada Wallis não convence como arqueóloga, sempre impecavelmente maquiada e penteada em meio a uma escavação no deserto, não tem a aparência nem a postura de um pesquisador de campo. Também não há química em seu par romântico com Cruise. Este também não combina com o personagem para que foi escalado, mas o carisma do ator e seu esforço em fazer as próprias cenas de ação compensam a falha.
Boutella é a única que está bem no papel, embora o roteiro não lhe dê muito com o que trabalhar. Desprovida de complexidade, suas motivações não fazem sentido. E mesmo que o filme abraçasse a caricatura e criasse uma clássica vilã unilateral que quer "conquistar o mundo" - tivemos dezenas de vilões assim, por que não uma mulher? - esse "bad girl power" só vai até a página dois, já que a Ahmanet afirma que quer conquistar o mundo para seu futuro amante Seth, o Deus da Morte. Tirando toda a força da "grande novidade" de ter uma mulher como a Múmia pela primeira vez.
Com personagens tão mal construídos e um roteiro fraco é difícil criar empatia com os personagens ou mesmo receio da ameaça de final previsível. Algumas cenas de ação são realmente bem feitas, mas não são suficientes para carregar o longa.
Mal ajambrado e forçado, a nova versão de A Múmia não consegue gerar empatia. Se não acreditamos no universo, na ameaça, no romance ou nos mocinhos, logo não nos importamos com os rumos do filme. O promissor Dark Universe começou com o pé esquerdo, e o estúdio vai precisar se esforçar para conquistar o público e não deixar a "maldição da múmia" contaminar os outros longas da franquia.
A Múmia (The Mummy)
2017 - EUA - 111min
Terror/Ação
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