Há quem diga que após alcançar o topo o único caminho é para baixo. É contra esta essa inevitável "descida" que Riggan Thomson (Michael Keaton) tenta lutar. Com a carreira em baixa desde que se recusou a estrelar o quarto filme da franquia do super-herói Birdman, há 22 anos, ele tenta um último esforço em um trabalho pelo qual será admirado e respeitado. Ele decide dirigir e estrelar uma peça que ele mesmo adaptou de um conto de Raymond Carver. Afinal é no palco que estão os "verdadeiros atores", teatro dá prestígio especialmente na Broadway.
Infelizmente às coisas não podiam dar mais errado para nosso protagonista, às vésperas da estréia ele precisa lidar não apenas com a dúvida em torno de sua capacidade. Mas, também com uma crítica de renome determinada a odiar a peça. A substituição as pressas do ator principal acidentado por um talentoso, porém surtado ator do método. Com a colega de elenco que pode estar grávida, o agente desesperado para salvar a produção e a filha recém saída de uma clínica de recuperação para dependentes químicos, em eminente ameaça de recaída.
Caso você ainda não tenha percebido ate agora, o diretor Alejandro González Iñarritu faz uma crítica inteligente e bem humorada ao mundo do entretenimento, e a necessidade de ser admirado que este cria naqueles que vivem nos holofotes. Assim temos um protagonista, que trabalha sem descanso para colocar tudo nos eixos, ao mesmo tempo que lida com seu alter-ego, a voz de Bridman em sua mente, e acredita ser capaz de voar e mover coisas com a mente.
Sim, é evidente desde o início Riggan não está bem, e ziguezaguear atrás dele pelos estreitos corredores do teatro em incríveis planos sequencias, não ajuda em sua sanidade, mas também leva ao espectador ao seu estado de confusão e estresse. Inclua aqui uma trilha de percussão turbulenta, que por vezes invade a cena, tornando todo o universo ainda mais non-sense. O tempo está se esgotando, a pressão aumentando, tem muita gente para confundir ainda mais, todos complexos e perturbados.
E por falar nas pessoas, a escalação do elenco não podia ser mais interessante. Enquanto Keaton (que viveu Batman há 22 anos, coincidência?) entrega um trabalho que seu personagem gostaria de realizar. Vivendo um ator decadente, egocêntrico, arrogante, mas acima de tudo frágil, meio perdido e completamente desesperado. O que torna muito fácil para Mike Shiner (Edward Norton, ator do método, que já foi Hulk) o tal ator substituto "surtado do método" roubar a cena de Keane. Criando uma divertida porém improdutiva disputa de ego entre os atores.
Quem também se destaca é Emma Stone (a namorada o Homem-Aranha), e sua perturbada filha de celebridade. Entre mágoa e carência da figura paterna, jovem intensa tenta esconder sua vulnerabilidade, desafiando a si mesma e ao pai todo o tempo.
E se não for suficiente um elenco afinado que irônica e propositalmente são estrelas de filmes de super-heróis, uma crítica ácida à sociedade do entretenimento e uma narrativa tão fluida que a montagem vai fazê-lo crer que o filme é um longo plano sequencia, capaz de se manter por diferentes passagens de tempo. Resta ainda o final à ser discutido. Propositalmente ambíguo para deixar o expectador decidir se não apenas carreira, mas o destino de Riggan alçou vôo, ou simplesmente chegou ao fundo do poço. Enquanto o filme com certeza, alcança às alturas como o super-herói que lhe dá nome.
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) - (Birdman)
EUA - 2014 - 119min
Comédia/Drama
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