Já passamos pelas fantasias, pelos romances sobrenaturais, agora é a vez das distopias. Ou nesse caso falsa utopia. Uma vez que, livres de guerras, racismo, tristezas ou doenças, a sociedade de O Doador de Memórias, aparenta ser perfeita.
Divididas em distritos facções comunidades, a sociedade é organizada em unidades familiares constantemente "observadas" pelo conselho. E quando suas crianças atingem certa idade, são designadas para os trabalhos mais adequados à sua personalidade. Jonas (Brenton Thwaites) é selecionado para o trabalho mais misterioso da comunidade, o de guardião de memórias.
É no aprendizado de sua nova profissão com guardião anterior (Jeff Bridges), que Jonas começa a perceber que há algo faltando em sua sociedade. Sem saber suas origens, a população vive em um estado de conformismo extremo, que supostamente os poupa do sofrimento, mas não sem consequências. Se a ignorância é uma benção, ignorar tudo também não é boa coisa. E é quando começa a conhecer um mundo além da suposta utopia em que vive, que o protagonista desenvolve a curiosidade, a dúvida, e os sentimentos. Desde o amor à revolta, e inconformismo com a sociedade que começa a compreender.
Um mundo futurísta utópico bem construído em conceito e visual. Uma civilização homogênea onde não há expressões de individualidade, são bem acertadas. Assim como a escolha por alternar entre o preto e branco e a cor, apesar uma opção de clichê, deve causar alguma reação na geração alimentada pelo 3D e excesso de tecnologia. Afinal é uma fábula infanto-juvenil.
Apesar de trazer um elenco jovem competente, falta carisma ao protagonista, o que fica evidente assim que este universo deixa de ser um mistério e não precisamos mais dele para desvendá-lo. a partir daí, ao invés de aprofundar nas questões levantadas pela falsa utopia, o longa segue apenas a tomada de atitude do protagonista. Obedecendo a fórmula dos blockbusters de distopia adolescente atuais, e que você provavelmente adivinhará o próximo passo.
O final, no entanto, fica em aberto, uma vez que a trama é baseada na tetralogia literária de Lois Lowry (que no Brasil ganhou originalmente o título de O Doador, mas que agora deve mudar juntamente com a obrigatória edição com a capa do filme) . E é provavelmente no universo criado pela versão em papel que reside a maior falha de conceito: o de que existe uma memória coletiva histórica de alguma forma inerente à condição de ser humano (estaria no DNA?), e que esta pode ser contida e/ou liberada através de uma barreira. Sim imaginário coletivo existe, mas este é criado e desenvolvido com o tempo, e a convivência em sociedade com outras pessoas que possuem esta memória. E não poderia ser contido, e restaurado sem perdas gerações mais tarde.
Talvez eu esteja esperando muito de um blockbuster adolescente. Talvez a resposta esteja nos livros, aí sim grande falha do filme depender dele. Talvez o cânone seja melhor definido, nas continuações, se estas existirem.
Seja qual for o caso, o filme é uma aventura/ficção ciêntífica juvenil bem produzida, que levanta, embora não discuta, várias questões. Com Jeff Bridges, Meryl Streep, Alexander Skarsgård, Katie Holmes e Taylor Swift no elenco. Além de trazer bom elenco, incita questionamentos. E ainda se arrisca a trazer parte da projeção sem cores para uma geração que geralmente não assistiria algo do tipo. Tomara que o roteiro cresça em suas supostas sequencias.
O Doador de Memórias (The Giver)
EUA - 2014 - 90min
Ficção científica/Fantasia
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