Em tempos que reality shows dividem opiniões, e são considerados por muitos entretenimento para massas passivas e tão manipuláveis quanto seus participantes, é surpreendente que ainda seja possível gerar boas discussões a partir da idéia. Afinal, embora esgotada e mal aproveitada pela TV, a premissa de uma sociedade distópica controlada e assistida (ou fiscalizada?), nasceu rica e cheia de discussões em obras como 1984, e Fahrenheit 451.
Jogos Vorazes conta a história de uma sociedade pós-apocalíptica onde os Estados Unidos não existem. A região está dividida em 12 distritos e uma Capital. Esta última passou a usar os jogos do título como forma de controle dos distritos após uma tentativa de revolução. Assim cada distrito deve oferecer anualmente um casal entre 12 e 18 anos como tributo para lutar até a morte em um reality show assistido com entusiasmo pelos moradores da Capital, e com apreensão pelos lares dos concorrentes. O vencedor, além de sobreviver garante algumas regalias, para sua cidade natal.
Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), é a primeira em seu distrito a participar voluntariamente dos jogos, poupando sua irmã caçula, escolhida por sorteio. A adolescente segue ao lado do outro tributo Peeta Mellark (Josh Hutcherson), para o mundo luxuoso e moderno dos jogos. Lá são treinados e embelezados como legítimos produtos de entretenimento, antes de serem enviados para a morte certa.
A diferença entre a capital e as regiões controladas é gritantemente apontada pela produção de arte. Esta apresenta figurinos e penteados extravagantes que fazem com que as pessoas da captial parecerem bonecos (ou seriam marionetes?) abobados. Especialmente quando figuram entre avanços tecnológicos como trens que quase voam, supercomputadores, paredes e janelas que se transformam em telas. Enquanto a terra natal de Katniss é cinza, simples, extremamente rural, triste e faminta.
Os extremos entre as regiões é apenas um dos muitos temas abordados pela aventura baseada no livro homônimo de Suzanne Collins. Manipulação e controle das massas, violência, questões morais (matar ou morrer?), são tantas as discussões que fica a sensação de que fica a sensação que pouco foi aproveitado de cada uma delas.
Falta tempo, embora o longa ultrapasse as duas horas de duração. Poderia ser melhor? Sim. Mas, tendo em vista que é uma obra voltada para um público que antes discutia se caninos ou diamantes eram melhor companhia romântica, já tem seus méritos apenas por lhes dar coisa mais útil para debater. Além de que pode gerar o interesse não apenas pela obra literária original, mas pelas várias outras obras que ela faz referência.
É claro, existe romance, mas este é não é o foco da aventura. E até ele é carregado de questionamentos, uma vez que até a formação de casais e alianças é manipulada pelo jogo.
O elenco jovem é competente, em especial Lawrence. A Mística de X-Men-Primeira Classe, já recebeu uma indicação ao Oscar (por Inverno da alma), e carrega nas costas o longa com uma personagem que foge da mocinha frágil, atrapalhada e indecisa. Já Stanley Tucci e Woody Harrelson, em pontas de luxo parecem não precisar de muito esforço para nos fazer acreditar no apresentador de reality show e o ex-campão/mentor da mocinha respectivamente.
É verdade que sobram algumas algumas dúvidas sobre aquele universo, mas nada que obrigue a leitura da obra para a compreensão geral. E a comparação com Potter e Crepúsculo cometida pela própria divulgação do filme é injusta. Afinal a única semelhança entre as obras é serem adaptações de sucessos literários juvenis.
EUA - 2012 - 142 min.
Ação / Drama / Ficção científica
Postar um comentário