Frankestein (2025)

Tá mas você reparou que 2025 foi o ano de resgatar monstros clássicos do cinema? Lá no início do ano, a gente teve o Nosferatu de Robert Eggers, oficialmente é de 2024, mas chegou aqui pra gente em janeiro deste ano. Mais por meio do ano saiu Drácula de Luc Besson. Mas a releitura que eu mais estava esperando dessa leva era o Frankenstein de Guillermo Del Toro, afinal, Labirinto do Fauno, A Forma da Água, Hellboy, o diretor tem um histórico com excelentes representações de criaturas e seus dilemas, mas…

Ok, talvez parte da decepção talvez tenha sido causada por minha própria expectativa. E pelo imaginário coletivo de Frankenstein, mais atrelada ao filme de 1931, que ao romance de Mary Shelley. O filme de Del Toro é uma adaptação do romance, e não remakes dos filmes. Mesmo assim, o resultado está aquém do que sabemos que o diretor é capaz. O que triste, já que o próprio afirma ser este o projeto de seus sonhos.

Dividido em um prólogo, e mais duas partes, uma do ponto de vista de Victor Frankenstein (Oscar Isaac), e outra da criatura (Jacob Elord), acompanhamos a vida do cientista desde a infância. Os abusos do pai médico, que o obrigou a se interessar por medicina, e a morte da mãe que deu início à sua obsessão por vencer a morte. Ambição que se torna uma possibilidade quando, o comerciante de armas Heinrich Harlander (Christoph Waltz) demonstra interesse, e segunda intenções ocultas, claro, pelo projeto. 

Junto com investidor, chega na história também sua sobrinha Elizabeth (Mia Goth), que não por acaso, é noiva do irmão caçula de Victor. É William (Felix Kammerer) quem apresenta Harlander ao irmão. Eventualmente, o cientista dá vida a criatura montada a partir de partes de cadáveres de guerra. Mas seu sonho parecia tão distante, que acho que ele nunca pensou no depois. O que fazer após seus objetivos serem alcançados? Como lidar com os resultados? Sejam eles quais forem.

Victor se aborrece e se entedia, quando sua criação não alcança o intelecto que ele esperava. E passa agir com ela, da mesma forma que seu pai agia consigo. E é aí que reside um dos maiores problemas deste novo Frankestein. Del Toro, escolheu deixar o terror um pouco de lado, e focar nas relações, em especial do criador e da criatura,. Que é sim inerente à história de Frankenstein, mas Mary Shelley estava tentando ganhar uma aposta de quem escrevia o conto mais assustador. As reflexões e os dramas vieram como consequência. E por isso são tão interessantes, porquê surgem da história através das reflexões em torno dela. Não são entregues de bandeja, como roteiro faz aqui. 

Além disso, as mudanças do roteiro em relação ao livro, como interesse amoroso proibido pela noiva do irmão e a relação com o pai abusivo, replicada pelo filho com sua criação, contribuem mais pelo melodrama que pela filosofia. Enquanto as questões filosóficas são jogadas quase que de forma didática na tela. Basta notar que em momento algum nos questionamos sobre quem de fato é o monstro. O roteiro constrói o personagem de Oscar Isaac de forma antipática o suficiente para nunca termos dúvida. É ele!

 Enquanto o monstro Jacob Elord é inegavelmente ingênuo, confuso e rejeitado, nunca de fato agressivo. Sua "persona monstruosa" é mais apoiada na altura do ator, e numa movimentação ensaiada, que na aparência cadavérica de fato. E quando o personagem ganha a habilidade da fala - sim, está nos livros, mas não no imaginário popular criado pelo filme de 1931 - aí mesmo que toda sua monstruosidade se esvai. Mesmo porque ele não apenas fala, ele tagarela, narrando seu lado da história, com eloquência, narrativa rebuscada, e até reflexões sobre sua natureza. 

Tanto Oscar Isaac, quanto Jacob Elord entregam com eficiência o que o roteiro exige deles. Infelizmente o que o texto pede, não é o melhor que os personagens podem oferecer. Mas é melhor do que fica reservado as personagens de Christoph Waltz e Mia Goth. Enquanto ele repete a persona que está condenado a interpretar desde o excelente Hans Landa de Bastardos Inglórios, e que é descartado de forma preguiçosa assim que cumpre seu objetivo. Ela, simplesmente não tem a energia que a mocinha precisa, entregando apatia ao invés de suavidade e empatia. Apenas não é o tipo de personagem para ela. O elenco ainda conta com Charles Dance, David Bradley, Lars Mikkelsen e Christian Convery.

Design de produção, figurino e maquiagem, tem as características já conhecidas do diretor. Embora a criatura seja um tanto quanto "bonita demais" considerando sua origem, e outras criaturas que Del Toro entregou. Enquanto o uso de CGI em demasia, pode incomodar alguns, ou ser interpretado como uma alegoria à artificialidade do monstro. Eu acho foi só pouco orçamento mesmo, mas não chegou a me incomodar não.  

Frankenstein de Guillermo Del Toro é um filme bonito, rebuscado, grandioso, mas também foi uma das maiores decepções para mim esse ano. Mais longo do que precisava, na tentativa de ser muito poético e épico, acaba sendo apenas morno. Além de extremamente didático e melodramático, ao invés da fábula cheia de reflexões e terror, que o público esperava. 

Frankenstein 
2025 - EUA, México - 149min
Drama, Fantasia Terror

Frankestein estreou em outubro em alguns cinemas selecionados, mas sua estreia mundial foi na Netflix, onde já está disponível. 

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