Orange is the New Black - 6ª temporada

Faria todo sentido se esta fosse a última temporada de Orange is the New Black. Apesar de não serem definitivos, os desfechos apresentados são bastante satisfatórios de acordo com os arcos dos personagens. Mas estou me adiantando, além disso o sexto ano trouxe o frescor que a série precisava, sem deixar de lado discussões pertinentes sobre a sociedade atual, que tem como hábito abordar.

É hora de lidar com as consequências da rebelião deflagrada na temporada anterior após a morte de uma Poussey (Samira Wiley). A transferência para o presídio de segurança máxima de Litchfield, a investigação sobre a morte de Piscatella (Brad William Henke), e as responsáveis pelo motim ocupam boa parte da temporada. Há também tempo para mostrar a adaptação ao novo "lar" e a nova realidade a que as personagens são submetidas. Se antes, as detentas se dividiam de acordo com etnia, agora são dispostas aleatoriamente em três blocos. Dois deles, com uma rixa mortal estabelecida há trinta anos.

É nessa mudança de relações que a série oferece a novidade que precisava ao unir personagens, que pouco interagiam na dinâmica anterior- quem nunca quis ver Frieda e Suzane juntas? - Além disso, como mostrado no season-finale do ano anterior, as revoltosas foram separadas. Salvo por algumas aparições relâmpago, apenas metade do elenco está presente em cena. Aqui o roteiro toma a corajosa decisão de eliminar o excesso de personagens, deixando apenas aquelas cujo arco vale a pena explorar, e consequentemente abrindo espaço para os novos rostos, que ajudam a desafiar as "garotas da mínima".

Assim, Suzanne (Uzo Aduba, sempre competente), nos dá as boas vindas ao novo presídio em um excelente episódio de estreia que aponta que aqui tudo vai ser diferente. A não ser é claro por Piper (Taylor Schilling, faz o melhor com a personagem menos interessante do "rolê"). Longe de ser a protagonista da proposta inicial - e que bom que a série assumiu isso há tempos - a moça branca de classe média alta, continua obcecada por Alex Vause (Laura Prepon), e por tentar levar uma vida melhor na prisão. Sua repetitiva insistência no entanto, rende um dos melhores diálogos da temporada, quando Taystee (Danielle Brooks, competentemente versátil) finalmente explica para a moça o porquê de todos implicarem com ela na prisão. Uma explicação, simples eficiente e honesta sobre privilégios e preconceito.

E por falar em Taystee, se tem alguém que mereceria o título de protagonista da temporada é ela. Escolhida como "bode expiatório" da rebelião, e consequentemente transformada em ícone do movimento Black Lives Matter, seu desenvolvimento é de longe o mais complexo da temporada. Ainda em luto por sua melhor amiga, a moça transita entre desesperança, determinação, medo, luta, entre outros estados psicológicos antes de encarar um dos desfechos mais cruéis, já visto na série. Atrelado à sua jornada estão também os arcos de Joe Caputo (Nick Sandow) e Cindy (Adrienne C. Moore). O ex diretor da mínima, já havia mostrado que conhecia e se importava com suas detentas, agora ele realmente tenta fazer algo por ao menos uma delas. Enquanto Black Cindy tem que lidar com o fato de que colocou a amiga em maus lençóis.

Em maus lenções também está Frieda (Dale Soules), que há trinta anos foi transferida da máxima para a mínima deixando para trás inimigas que agora tem a oportunidade de se vingar dela. Carol (Henny Russell) e Barb (Mackenzie Phillips), são as líderes das gangues responsáveis pela atual ordem, e pelos rostos novos em cena, assim como suas seguidoras Badson (Amanda Fuller, irritante) e Daddy (Vicci Martinez). Contudo, apesar do tempo em cena, e até arcos bem construídos, não conseguem criar a mesma empatia das personagens antigas. Vale prestar atenção, na forma coerente e cíclica que o roteiro inicia e encerra a tal disputa entre blocos.

De volta às veteranas, Nicky (Natasha Lyonne) e Red (Kate Mulgrew), parecem trocar de papéis. A ex-viciada tentando a todo custo proteger sua antiga família, enquanto a "ex-mãe da cadeia", se vê obcecada com aqueles que a traíram. Vale observar que mesmo a caracterização de Red aponta sua perda de rumo, com os cabelos cortados por Piscatela anteriormente, a figura da Russa nunca se assemelha a imagem forte de cabelos vermelhos a que fomos apresentados na primeira temporada do programa. 

Fora de si também estão Gloria (Selenis Leyva) e Ruiz (Jessica Pimentel), que intensificam suas rixas. Dayanara (Dascha Polanco), sem esperança com sua nova sentença perpétua. Além dos guardas, novos e antigos que se distraem no horário de serviço com um jogo cruel. Traços de estresse pós-traumático entre aqueles que foram reféns na rebelião são apontados, mas pouco explorados.

Quem também tem arcos pouco explorados, mas marcam presença satisfatória são, Lorna (Yael Stone), Flaca (Jackie Cruz), Burset (Laverne Cox) e Aleida (Elizabeth Rodriguez). Enquanto Doggett (Taryn Manning) e Suzanne, sempre excelentes poderiam ter mais espaço. Blanca (Laura Gómez), ganha uma voz que nunca tivera, e recebe uma das melhores discussões ainda por vir.

E por falar nas discussões, as deficiências do sistema, irresponsabilidade, abuso de poder, impunidade, entre outras mazelas humanas e sociais, continuam em foco. A surpresa aqui fica por conta da inclusão o centro de detenção ao imigrante, ao final da temporada. A série foi gravada antes, discussão de como os EUA estão lidando com os imigrantes ilegais se intensificar. Há também a discussão sobre a vida pós prisão, através de Aleida, e mais tarde Pipper. - Pausa para um pequeno spoiler - a loira finalmente é libertada no season finalle, e precisa descobrir o que fazer com a vida a partir daí. Para a surpresa de muitos que, assim como esta blogueira vos escreve, apostavam na saída da personagem como marco de encerramento da série.

Orange is the New Black parece ter um plano bem definido para contar sua história. A série conseguiu encontrar fôlego novo nesta temporada, e ajustar os rumos para um possível desfecho bem resolvido no próximo ano. Sem abandonar sua fórmula, na qual desenvolve bem seus muitos personagens, com flashbacks e alternando momentos tensos e de humor, sem tirar o peso dos assuntos que resolveu discutir. Fique atento à escolha de elenco, que é sempre impecável na hora de selecionar as versões mais jovens das personagens. 

O sexto ano tem um desfecho que funcionaria muito bem como final da série, mas acredito que passar mais algum tempo em Litchfield, não vai nos fazer mal algum. E diferente de suas moradoras, para nós pode ser uma experiencia realmente instrutiva e agradável.

Orange is the New Black já tem o sétimo ano confirmado. As seis primeiras temporadas tem 13 episódios cada, e todos já estão disponíveis na Netflix.

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