Sense8 - Episódio Final

Uma dedicatória aos fãs da série encerra a história de Sense8. A mensagem é apenas a reafirmação do que o filme da Netflix realmente é, uma obra possibilitada pelos fãs, e produzida para eles, que lutaram por um encerramento digno após o cancelamento. É o supra-sumo do fan-service, além de encerrar a trama principal, traz de volta as principais características das duas primeiras temporadas da série. O problema é que ao recriar o que deu certo, a produção também repete alguns erros.

A aflição dos fãs por um encerramento era justificada, a segunda temporada deixou um dos protagonistas capturados pelo inimigo. Enquanto a OBP, Organização de Preservação Biológica tinha Wolfgang (Max Riemelt), os outros sete sensates capturaram um dos líderes da organização, o vilão Sussurros (Terrence Mann), em uma sequencia de ação que reuniu a muitos deles pela primeira vez. Este episódio especial dá seguimento à trama comum a todos, a luta contra aqueles que querem destruir os homo-sensorium.

Apesar de focar em apenas na trama principal, J. Michael Straczynski e Lana Wachowski não parecem dispostos à simplificar a jornada que tinham planejado inicialmente. Reviravoltas, elementos surpresa e até introdução de novos conceitos são espremidos em duas horas e meia de projeção. Criando uma jornada rocambolesca e confusa, sem muito tempo para que o espectador assimile o que está acontecendo. Ao mesmo tempo que perde tempo com um excesso de explicações nem sempre necessárias para o desenvolvimento da história. As mais absurdas são de um Sense8 explicando para outro Sense8, porquê tem determinada habilidade - Não sei fazer isso, mas você sabe! - Todos podem fazer isso há duas temporadas, como ainda não entenderam?

Impossível não questionar, se o desfecho fosse mais comedido, não haveria tempo para encerrar melhor as tramas individuais. A ascensão política de Capheus (Toby Onwumere), e o resultado da investigação sobre a industria farmacêutica de Rajan (Purab Kohli), que sugeria um caso muito maior, são os desfechos mais simplificados. Entretanto, ninguém sai mais prejudicado que Lito (Miguel Ángel Silvestre), além de ter sua trama em busca do papel de sua vida deixada de lado, ele é eclipsado pelos próprios coadjuvantes. Daniela (Eréndira Ibarra) e Hernando (Alfonso Herrera), acabam contribuindo mais com a missão, que o ator.

Já os relacionamentos românticos são todos resolvidos, talvez por isso Lito tenha ficado apagado, sua "família" já estava formada desde o primeiro ano. Sun (Doona Bae) e o detetive Mun (Sukku Son), ganham cenas doces, mesmo que um pouco deslocadas. O trio Kala (Tina Desai), Wolfgang e Rajan ganham um final inusitado. Enquanto Noomi (Jamie Clayton) e Amanita (Freema Agyeman), representam o auge do amor livre e aceitação da diversidade.

Outro problema que o episódio traz de volta, é a confusão sobre a extensão das habilidades empáticas dos homo-sensorium. O uso indiscriminado do recurso, deixa dúvidas sobre o que eles realmente podem ou não fazer. A confusão fica evidente até quando os próprios personagens tentam explicar seus dons. Compartilhar habilidades, estar em dois lugares ao mesmo tempo, encontrar membros de outros clãs, usar habilidades para falar com quem está a um cômodo de distância, não há o que a produção não faça, em alguns momentos apenas porque a montagem ficaria "legal".

Mas não pense que estes problemas tornarão este episódio difícil de assistir, pois o maior trunfo da série continua intacto, seus personagens carismáticos e empáticos com quem facilmente nos identificamos, sejam eles sensates ou pessoas comuns. Some aí nosso histórico de duas temporadas de empatia com cada um deles, e o fato de estarem realmente juntos pela primeira vez, e fica difícil não se empolgar com a possibilidade que suas jornadas tenham um desfecho, mesmo que no aspecto individual este seja muito simplificado. E a produção encontra um jeito de trazer praticamente todos com quem os protagonistas se relacionaram de volta, mesmo que apenas de passagem. Reconhecer todo mundo pode até ser um desafio para quem maratonou as temporadas anteriores há algum tempo.

Outro acerto, são as sequencias de ação. Perseguições de carro, lutas corporais, tiroteios, explosões o filme traz de tudo um pouco, e com o selo de qualidade de quem criou Matrix. O humor também é acertado, e cria momentos tão absurdos quanto divertidos, como a sequência do ônibus de turismo.


Com o título de Amor Vincit Omnia (amor vence tudo), este episódio, não apenas encerra a história mas apresenta uma mensagem de diversidade, aceitação e união digna de nota. Infelizmente o take final, decepciona ao simplificar tudo à um brinquedo erótico. Provavelmente Lana Wachowski, tinha uma mensagem em mente quando escolheu a forma de encerrar sua história, mas para o expectador médio este objeto se tornará a última memória da produção, reduzindo sua mensagem à apenas uma aspecto do amor e aceitação. E infelizmente é aquele aspecto, com que os preconceituosos tem maior problema. Talvez uma forma de protesto, mas que só alcança quem já está imbuído deste sentimento. Não ajuda a espalhar a mensagem, e ainda exclui parte da audiência que vai passar os créditos questionando o porquê da escolha.


O episódio final de Sense8 só existe por causa dos fãs, e foi feito apenas para eles. Não funcionaria com não iniciados, e nunca teve a intenção disso. De fato, soa confuso e até piegas para quem está de fora. Para quem faz parte do cluster, no entanto, o sentimento é de missão cumprida, e de um caloroso adeus à Will (Brian J. Smith), Riley (Tuppence Middleton), Capheus, Sun, Lito, Kala, Wolfgang, Nomi e cia, que são deixados em um mundo bem melhor que nosso quando se fala de relacionamento humano.


Todos os episódios de Sense8 já estão disponíveis na Netflix, são 12 na primeira temporada, 11 na segunda, e o episódio final com 2h30 de duração!

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