Riverdale - 2ª temporada

A primeira temporada de Riverdale surpreendeu ao criar uma nova, e acertada, versão de um clássico dos quadrinhos estadunidenses. A série povoada por personagens dos quadrinhos da Archie Comics, tem a proposta de explorar dilemas adolescentes no estilo The O.C., agravados por um lugar cheio de mistérios como Twin Peaks. Ao longo de 13 episódios a produção se saiu bem ao desenvolver a trama do assassinato de Jason Blosson, apresentar os personagens para o grande público e deixar novas opções a serem exploradas no futuro. E o segundo ano da série chegou com 22 episódios. O tempo extra é um dos principais fatores que diferenciam as duas temporadas, tanto para o bem quanto para o mal.

Partindo dos ganchos deixados no ano anterior, Verônica (Camila Mendes) precisa aprender a lidar com a volta de seu pai Hiram Lodge (Mark Consuelos), à liberdade e aos negócios. Jughead (Cole Sprouse), precisa se acostumar com sua nova escola no South Side, e com os Serpentes, enquanto seu pai está na cadeia. Livre das asas da mãe, Betty (Lili Reinhart), se engaja mais nas causas que acredita.E oatentado à vida de Fred Andrews (Luke Perry), coloca seu filho Archie (KJ Apa), em uma busca por justiça. É claro, todas estras tramas são influenciadas e interligadas pelo mistério principal, quem é o Gorro Negro, que atentou contra a vida de Andrews e outros moradores de Riverdale.

O tempo extra exigiu um desenvolvimento mais lento do mistério, além de reviravoltas, e desenvolvimentos rocambolescos para ocupar todos os episódios com o mesmo caso. Repetições dos embates entre os lados norte e sul, os muitos casos adolescentes - todo mundo "pega" todo mundo! - e discordâncias entre o quarteto protagonista deixam evidentes, que a trama seria melhor desenvolvida em menos episódios. O arrasto pesou no roteiro, antes redondinho, agora cansativo em muitos momentos, e que ainda precisou correr com algumas explicações no último capítulo. Faltou equilíbrio.

Entretanto, vale lembrar quem é o público alvo da série. Um nicho que aparentemente curte muito torcer pelos "ships", e tretas adolescentes. Para atender à essa demanda a série acerta em cheio, criando até apenas para garantir o "fã-service". Agora só falta você e Archie se beijarem! - diz Betty à Jughead, sobre a relação do quarteto protagonista após uma cena gratuita de beijo entre dois deles.

Os personagens secundários foram o que mais se beneficiaram do maior número de episódios. Reggie (Charles Melton que precisou substituir Ross Butler, que não podia se comprometer com mais gravações), Toni (Vanessa Morgan), Kevin (Casey Cott), Josie (Ashleigh Murray) e até Ethel (Shannon Purser, a Barbie de Stranger Things) ganharam melhor desenvolvimento e tempo de tela. Mas ninguém aproveitou mais seu espaço que Cheryl (Madelaine Petsch), além de eventualmente ajudar os protagonistas, a ruiva ricaça teve que lidar com a morte do pai, com a mãe malvada, a descoberta de sua sexualidade. A questão da homofobia e aliás rendeu uma side-quest própria que é, de longe, uma dos melhores arcos da série. A moça passou de patricinha mimada, à justiceira corajosa - digna de integrar a equipe Arrow, com figurino e tudo - roubando a cena, e sem abandonar a majestade e a cor vermelha.

Agora sim, igualzinho ao quadrinho!
Entre os personagens principais, é Betty quem mais cresceu ao se relacionar com o vilão, descobrir o passado de sua família, e ter certeza da possível existência de um "lado negro" entre eles. Jughead tem seu rito de passagem para a idade adulta, ao passar de renegado a líder dos Serpentes. Assim como Verônica, que deixa de ser submissa ao pai, para jogar o jogo dele com eficiência. 

É apenas Archie quem realmente deixa à desejar se mantendo o mesmo personagem reativo da primeira temporada, quando seus dilema principal era apenas escolher entre futebol e música. Altamente manipulável, ele apenas reage aos acontecimentos e agindo como o tradicional adolescente que pensa que pode tudo, toma as piores e mais temerárias decisões possíveis. A atitude de fazer o que pessoas reais da sua idade não poderiam ou deveria, condiz com o universo da série, mas as atitudes em si deixam a desejar se comparada aos outros jovens, aparentemente mais espertos que ele. E como Archie é o protagonista fica difícil se preocupar tanto com ele quanto com os demais, especialmente quando o season finale o coloca como "coração" do grupo.

E por falar nas coisas que só os adolescentes de Riverdale fazem, e ninguém acha estranho. É preciso abstrair da maturidade e iniciativa destes personagens menos o Archie. A molecada escolhe resolver, por conta própria, todo e qualquer problema que apareça, mesmo aqueles que qualquer adulto preferiria chamar as autoridades. Polícia para quê? Nós somo capazes de pegar um assassino armado, sozinhos e sem reforço - eles pensam. Inclua nesta lista, festas bebidas e muitos amassos "de gente grande", que vão fazer você repensar o que fazia aos 17 anos. Uma dica: nada disso. 

O outro lado da moeda, os adultos, não enxergam, ou não entendem, os problemas, a menos que estejam causando um, ou vários deles. Neste caso, vão fingir inocência custe o que custar. A incapacidade dos adultos em serem responsáveis, deixa a história a cargo da molecada, que precisa agir como mencionado no parágrafo anterior. Logo se sua "sua suspensão de descrença for pouca", é provável que esta série não seja para você.

De volta aos temas adolescentes, a série acerta ao abordar alguns. Transtorno pós-traumático, homofobia, cura gay, uso de drogas, violência sexual e abuso de menores estão entre os temas deste ano. Muitos deles apresentados de forma coerente com o discurso atual, empoderando as moças, que não apenas se salvam sozinhas e unidas, mas salvam os rapazes muitas vezes. Provas, trabalhos de casa, escolha da faculdade e outras preocupações comuns à pessoas em idade escolar passam longe das mentes destes personagens, a não ser é claro do muito esperado episódio musical. Este pareceu meio deslocado, um desavisado poderia pensar estar vendo Glee, com músicas menos legais.

Direção de arte, fotografia e figurino mantém um bom trabalho ao criar uma Riverdale cada vez mais sombria e cinzenta, conforme os problemas se agravam. Além de manter uma distinção eficiente entre os personagens dos lados sul e norte, e as características daqueles que ajudam a história a andar. 

A segunda temporada de Riverdale não é tão eficiente e redondinho quanto seu ano de estréia. A produção sofreu para adaptar sua narrativa a um número maior de episódios. Algumas características foram beneficiadas por este tempo extra, outras nem tanto. Ao final do processo a série consegue entregar o que prometeu, um grande mistério desvendados por belos adolescentes com muitos dilemas amorosos. Agrada a seu público alvo, mas deve agradar poucos fora deste nicho. 

Riverdale é exibida no Brasil pela Warner, a primeira temporada também está disponível na Netflix.

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