Han Solo: Uma História Star Wars

Quando a Disney anunciou sua intenção de fazer um filme sobre o jovem Han Solo, o pensamento imediato de muitos fãs, inclusive o meu, foi: não sei se quero ver isso. Não que isso interferisse nos planos da empresa, que  estimulada pelo sucesso da franquia principal e de Rogue One, não enxergaria motivos para não trazer Han Solo: Uma História Star Wars. A produção que pretende preencher lacunas e responder perguntas sobre ícone do cinema.

Han (Alden Ehrenreich) ainda não é o malandro contrabandista que amamos quando o encontramos, é apenas mais um na multidão do planeta Corellia. É nesta aventura que conhecemos as motivações e a jornada que o levou a adquirir as características, amigos e até os objetos que facilmente relacionamos ao personagem imortalizado por Harrison Ford. Todas as perguntas que você sempre teve, e algumas que nem imaginou, devidamente distribuídas em uma aventura com toques de comédia.

Curiosamente a parte mais temerária da produção se sai relativamente bem em sua tarefa, dar novos rostos à personagens conhecidos. Com uma missão quase impossível, Ehrenreich parece ciente de que não é Ford, e escolhe aproveitar o fato de que este é um Han Solo ainda em construção, para lhe dar características próprias. Oscilando entre o bom moço e o malandro em potencial, ele incorpora gestos e expressões da versão de Ford em seu jovem protagonista sem pesar a mão.


Outro que precisa convencer é Lando Calrissian (Donald Glover), que aqui é um pouco mais intenso em em sua canastrice e malícia (sim, é possível) o que é coerente com o ímpeto da juventude. Chewie (Joonas Suotamo) é sempre o mesmo, mas aqui descobrimos mais sobre sua história e importância na vida do protagonista. Já os novatos tem que encaixar no tom e ritmo aventureiro e bem humorado e o elenco de peso não decepciona. O vilão vivido por Paul Bettany tem pouco tempo de tela, mas consegue marcar sua presença como ameaça invisível ao grupo. Beckett (Woody Harrelson, eficiente) é a figura de mentor da vez, e diferente de seus antecessores neste universo - a maioria Jedi e Sith - utiliza um guia de caráter mais maleável, não é vilão e nem mocinho. Rio (voz de Jon Favreau, divertido) a criatura alienígena da vez, é criado por GCI eficiente, tem uma personalidade interessante bem apresentada no pouco tempo que lhes é fornecido.

Outra que poderia ter mais tempo de tela é Val (Thandie Newton), sub aproveitada pelo roteiro apesar da força de sua personagem. A robô L3 (Phoebe Waller-Bridge, excelente) também tem uma personalidade forte, e nova para a sua "classe", é um droide com idéias de revolução. Relevante para a narrativa? Não muito, mas ainda divertida! Enquanto Qi’ra (Emilia Clarke, convincente), é o interesse romântico que move o protagonista, embora a moça não fique restrita à esta função. Prova de que o estúdio está ciente que não é mais possível colocar as personagens femininas à espera de um resgate a todo o tempo.


Enquanto o grupo tenta se ajustar remodelar e trabalhar juntos para cumprir suas missões, o roteiro aproveita para dar detalhes da história de seu protagonista, da qual tivemos vislumbres ao longo da trilogia original. Como ele conheceu Chewbacca, Lando, quando pilotou a Millennium Falcon pela primeira vez, como aprendeu a criar planos e esquemas, e até as origens de alguns nomes, nada fica de fora de uma profusão de referências que ultrapassam os limites do "fã-service" e beiram a quebra da "magia" em torno do protagonista, além de não trazer muitos detalhes novos. Impossível não notar que,. apesar de não haver nenhum projeto de sequência, embora haja sim um gancho para tal, se a mesma acontecer não restam muitas destas referências ou respostas a serem dadas em uma segunda aventura.

Enquanto gasta minutos criando situações e contando detalhes que não avançam a história, a produção perde a oportunidade de criar cenas memoráveis próprias. Não demora muito para o expectador perceber quais "grandes momentos" deve esperar, e o filme não surpreende ao entregar coisas novas. E mesmo entre estes grandes momentos previsiveis, alguns serão mais bem vindos que outros. A construção da relação com Lando é divertida, com Chewie ganha consistência. Já o primeiro encontro com a  Millennium Falcon nem de longe empolga tanto quanto a cena em que Ray a encontra em O Despertar da Força.

Se não temos muitas novidades em torno de seu personagem título, as contribuições para o universo da franquia são mais empolgantes. Pela primeira vez vemos como as "pessoas comuns" vivem neste período da história, especialmente aqueles à margem da sociedade. Há sim quem tenha relação com o Império e a Aliança Rebelde, mas os personagens tentam apenas sobreviver, independentes de motivações políticas. E claro, a vida nestas circunstâncias não é nada fácil.

Planetas funcionais que existem apenas para produzir algo, periferias, áreas de guerra, não faltam lugares novos a serem apresentados. A direção de arte e fotografia favorecem as cores fortes e contrastes para dar ao filme um visual próprio, ainda que coerente com o universo. E se ainda houver alguma dúvida, a trilha sonora traz ecos da música da trilogia clássica.

Mais leve e divertido, Han Solo: Uma História Star Wars tem um roteiro bem amarradinho, um bom elenco e produção caprichada. Peca apenas ao focar nas referências e nas perguntas que não precisa responder - quem precisa saber como a Millennium Falcon fez o percurso de Kessel em menos de doze parsecs? O importante é que ela o fez. - ao invés de investir em uma personalidade própria, e criar bons novos momentos. Diverte, mas deixa a sensação de que poderia ser melhor.

Han Solo: Uma História Star Wars (Solo: A Star Wars Story)
EUA -2018 - 135min
Ficção científica, Fantasia, Aventura


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